SS. Corpo e Sangue de Cristo
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Reflexões sobre as leituras
de LUCIANO MANICARDI
Na página evangélica a orientação que Jesus dá aos discípulos para que deem, eles mesmos, de comer à multidão que tem fome e que está cansada, interpela profundamente a ação da Igreja.
domingo 2 junho 2013
de LUCIANO MANICARDI
Ano C
Gen 14,18-20; Sal 109; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11b-17
Prefigurada pela oferta do pão e do vinho feita por Melquisedec (I leitura) e anunciada pelo banquete dos pães e dos peixes à multidão (Evangelho), a Eucaristia é, para Jesus, sinal de oferta de toda a sua vida (II leitura). O caráter de prefiguração eucarística do episódio narrado nos Genesis (Gen 14,18-20) é expresso também na memória, presente na oração eucarística I (Canon Romano), "da oferta pura e santa de Melquisedec, teu sumo-sacerdote” aceite por Deus.
O pão e o vinho têm uma importante e múltipla valência simbólica. Representam a natureza (são frutos da terra) e a cultura (são frutos do trabalho do homem); são alimento e bebida, logo são elementos vitais, por excelência, que acompanham o homem do seu nascimento à sua morte, durante toda a sua vida; pão e vinho remetem para a mesa e consequentemente para o convívio e para a comunhão que se estabelece em torno dela; remetem também para a nossa condição corpórea: o corpo sente e sofre fome e sede, o corpo é sustentado pelo alimento, mas este, apesar de nutrir o corpo, não pode libertá-lo da morte. O alimento eucarístico, representado por estes símbolos elementares e fecundos da vida, antecipam e prefiguram aquela vida eterna e aquela comunhão, sem sombras, com Deus e que, doada em Cristo, será realidade para sempre e para todos, no Reino de Deus. Portanto, enquanto memória de toda a vida de Cristo, a Eucaristia assume também a vida inteira do homem através dos símbolos do pão e do vinho.
A página dos Génesis e o exemplo de Melquisedec no Canon Romano permitem colher também a dimensão universal da Eucaristia: o encontro de Abraão com Melquisedec é o encontro da fé num Deus uno, JHWH, o Deus de Israel, com a tradição religiosa cananea de Melquisedec e do povo de Jacob. De certo modo, Melquisedec pode ser compreendido como o representante da oferta que da humanidade inteira sobe até Deus, da humanidade que não conheceu a revelação. E isto recorda-nos que a Eucaristia é ação de graças que a Igreja realiza em nome de toda a criação, para todo o mundo e sobre todo o mundo. A Eucaristia é a oração das orações: nela convergem todas as nossas orações, mas ela é também expressão da saudade pela comunhão com Deus. Há uma dimensão cósmica, criacional e universal na Eucaristia que não pode ser esquecida. O mundo e a humanidade inteira que Cristo reconciliou com Deus estão presentes na Eucaristia: no pão e no vinho, na pessoa e no corpo dos fiéis e nas orações que estes oferecem por todos os homens.
Na página evangélica a orientação que Jesus dá aos discípulos para que deem, eles mesmos, de comer à multidão que tem fome e que está cansada (cf. Lc 9,13), interpela profundamente a ação da Igreja. Aquele “dai-lhes vós mesmos de comer” não pode ser reduzido a um apelo à generosidade nem compreendido como uma exortação à mudança do sistema económico e social fundado sobre a propriedade privada, nem mesmo entendido como um convite a uma eficiente e adequada organização assistencial de caridade. Aquela orientação contesta a indiferença contra a necessidade do outro (“Despede a multidão para que indo pelas aldeias e campos em redor, encontre alimento e onde pernoitar, pois aqui estamos num lugar deserto”: Lc 9,12) e suscita a objeção dos discípulos que vêm na sua pobreza um impedimento (“Só temos cinco pães e dois peixes”: Lc 9,13). O mandamento evangélico tem impacto, ontem como hoje, contra os parâmetros de bom senso, racionalidade, eficiência que invadem também a igreja. Paradoxalmente, a própria pobreza que os discípulos veem como obstáculo é, para Jesus, o espaço necessário do dom e o elemento indispensável para que "dar de comer" não seja apenas desenvolvimento de eficiência humana mas sinal de poder, da bênção e da misericórdia de Deus e lugar de instauração de fraternidade e comunhão.
LUCIANO MANICARDI
Eucaristia e Parola
Textos para as Celebrações Eucarísticas - Ano C
© 2009 Vita e Pensiero