XXIV domingo do Tempo Comum

Crocefisso, pittura, 1972
WILLIAM CONGDON, Crucifixo 52
16 setembro 2012
Reflexões sobre as leituras
de
LUCIANO MANICARDI
"Ao longo do caminho" Jesus interroga os discípulos sobre a sua identidade e acolhe as suas respostas: é no seguir Jesus, concreto e quotidiano, que se clarifica para o discípulo a identidade de Jesus.

16 setembro 2012
de LUCIANO MANICARDI

Ano B

Is 50,5-9a; Sal 114; Tg 2,14-18; Mc 8,27-35

O caminho de obediência do servo torna-se força para enfrentar com fé no Senhor a violência e a rejeição (Isaías); o caminho de Jesus é um itinerário de obediência e de fé, num Deus que se revela o Messias, chamado a conhecer a rejeição, a morte e a ressurreição (Evangelho).

"Ao longo do caminho" Jesus interroga os discípulos sobre a sua identidade e acolhe as suas respostas: é no seguir Jesus, concreto e quotidiano, que se clarifica para o discípulo a identidade de Jesus. A autêntica confissão de Jesus acontece existencialmente. A identidade daquele a quem se confessou atrai e implica a identidade d'Aquele que confessa: é na sua vida que o cristão confessa Cristo. Ou melhor: enquanto dizemos que somos cristãos é importante que tenhamos consciência que ainda nos devemos tornar cristãos. A obediência à vontade de Deus manifesta-se no corpo e nas relações, na existência e na morte. Até à morte! É a lição, recordada pelo velho Bispo Inácio de Antioquia, que, com o martírio à vista, escreve aos cristãos de Roma: "Agora começo a ser discípulo" (Ai Romani V,3).

A obediência de Jesus manifesta-se na expressão que diz que o Filho do Homem "deve" sofrer muito (Mc 8,31). Este “dever” não remete para uma imposição do alto, para uma vontade cruel de Deus  e menos ainda para espalhar o sangue, para satisfazer a ira de um Deus em cólera para com os homens pecadores. Aquele “dever” vai ao encontro da liberdade de Jesus com as exigências das Escrituras, isto é da vontade de Deus expressa nas Escrituras (“...não dizem as Escrituras que o Filho do Homem tem de padecer muito e ser desprezado?" Mc 9,12). Daqui flui o caminho de Jesus. Caminho que o leva a viver a paixão e a morte na fidelidade a Deus, no amor e na liberdade. Jesus sabe que, mesmo na rejeição e no abandono em que os homens o deixaram, o Senhor Deus o assiste (cf. Is 50,7). Em vez de suscitar imagens preversas de Deus, aquele "dever" implica o escândalo de um Deus que escolheu dar-se a conhecer aos homens pela cruz (cf. Mc 15,39), lugar simbólico que reune os homens nos infernos existenciais em que se pode precipitar, mas também paradoxal lugar de salvação universal.

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