Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor
A direcção precisa que Jesús mantém, com resolução, na sua existência e na sua vocação, é expressa no texto evangélico através do absoluto controle dos eventos, enviando os discípulos dois-a-dois, dando-lhes indicações claras e prevendo o que aconteceria (cf. Mt 21,1-3). Mas Jesús prevê eventos banais, que não parecem ter valor histórico ou espiritual. Parece que Jesús quer que as coisas aconteçam assim, que ele monte um burro manso, que depois restituirá ao dono, para narrar e marcar com o ritmo do mular, o caminho de Deus ao encontro do Homem. A reacção de desconhecimento e incompreensão da cidade nos confrontos com este Rei que, só pelo seu agir, rebate as características de um rei da época, é significativa de uma possibilidade permanente para o cristão e para a Igreja: senti-Lo como estranho a si próprio, o Cristo revelado pelos Evangelhos, o Cristo pobre, o Cristo manso, o Cristo que não se impõe. Enfim, o Cristo que escolhe como transporte nã um cavalo, mas um burro. Aquele "Quem é este?" da cidade incrédula, deve impor ao cristão e à Igreja uma outra pergunta: "Quem sou eu?"; "Que imagem do Senhor guia a minha prática cristã?". É à luz da mansidão daquele "Messias", da pobreza daquele Rei, da exclusão daquele que veio, que os cristãos e as Igrejas são chamadas a verificar as suas práticas. O paradoxo tem a função de revelação, mas pode tornar-se obstáculo.
Mateus sublinha, mais do que os outros evangelistas, a presença de uma multidão numerosa à entrada de Jesús em Jerusalém: “Uma grande multidão...” (v. 8); “E todos...” (vv. 9.11). Grande quantidade de gente que precede e segue Jesús, participação popular, confissão de fé, invocações litúrgicas, gestos de tributo para com Aquele que entra em Jerusalém. Parecem cenas de um evento coroado de sucesso. Mas no meio de todo este alvoroço a presença silenciosa de Jesús. Impõe-se uma questão: a multidão compreende o que está a acontecer? comprende aquilo que é verdadeiramente importante compreender? compreende Jesús e o seu agir paradoxal? A cena posterior da mesma multidão que pede a Pilatos que solte Barrabás, condenando Jesús (cf. Mt 27,20-24), sugere uma resposta negativa à questão. Desde sempre a fé cristã exigiu qualidade (isto é profundidade, interioridade, seriedade, liberdade, coragem , coerência,...), não quantidade. O problema é o terreno bom, não todo o terreno ou cada terreno, porque "onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles." (cf. Mt 18,20) e porque "nem todos têm fé." (2Ts 3,2).