I Domingo da Quaresma
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Reflexões sobre as leituras
de LUCIANO MANICARDI
As tentações de Jesús não são apenas tentações de milagres, do sagrado ou do poder (ou respectivamente a tentação económica, religiosa e política) mas muito mais do que isso
Ano A
Gen 2,7-9; 3,1-7; Sal 50; Rm 5,12-19; Mt 4,1-11
As leituras do ciclo quaresmal "A" estão ligadas ao catecumenato e à iniciação cristã que culmina com o baptismo dado na noite pascal. No primeiro domingo, a Adão que sucumbe à tentação (1ª leitura) contrapõe-se Jesús que a vence (evangelho) e oferece a cada cristão a possibilidade de fazer de cada queda, ocasião para conhecer a graça de Deus (2ª leitura).
O binómio pecado-morte com que Paulo interpreta a queda primordial, presta-se a uma releitura a partir do livro dos Génesis. A tentação age dentro do homem a partir da palavra de Deus que lhe diz de poder comer tudo excepto uma coisa (cf. Gn. 2,16-17); caso contrário encontrará a morte. A tentação age no coração humano antes de mais como uma frustração (se sou privado de uma coisa, sou privado de tudo, Gn. 3,1). A proibição do único fruto, mais do que permitir/ ordenar que coma tudo o resto, atinge e fere a criatura que se vê atraída por aquilo que lhe é interdito. E esta defende-se do poder do desejo com outras interdições que exacerbam a proibição divina -"não lhe deveis nem tocar" (Gn 3,3), especificando -“senão morrereis”(Gn 3,3). A morte já está presente no mundo, agindo na mente e no coração da criatura humana e produzindo medo. E são as próprias palavras -"Não morrereis de facto" que vencem a resistência da mulher e a empurram para a transgressão. Assim, o pecado vem da morte, mais do que o contrário. Ou, de forma mais precisa, o pecado vem do medo da morte.
O pecado aproveita-se do medo da morte. Nós pecamos e vencidos pela tentação abrimos caminho à posse, ao abuso, à acumulação, ao poder, ao consumo...mas o êxito desta sucessão é mortífero fazendo com que o homem se torne escravo daquilo que o venceu. O Novo Testamento afirma que "...também Ele partilhou a condição deles, a fim de destruir, pela sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, e libertar aqueles que, por medo da morte, passavam toda a vida dominados pela escravidão." (cf. Heb 2,14-15).
Jesús atravessa as tentações, não as evita. Isto é, aceita pôr-se à prova; não projecta a imagem do inimigo sobre realidades externas, mas aceita que o poder da tentação se implante no seu íntimo, no seu coração. Apenas quem vence o poder de quem divide dentro de si mesmo, pode caçar os demónios dos outros.
A vitória de Jesús é interior e espiritual. Ele vence recordando a Palavra de Deus. E a palavra recordada fá-lo percorrer o caminho do povo depois da saída do Egipto. As tentações (em Mateus) reproduzem o caminho de Israel nos quarenta anos de deserto remetendo (através das 3 citações do Deuteronómio na boca de Jesús) para 3 episódios fundamentais do Êxodo: o maná e as codornizes (cf. Ex. 16); Massá e Meribá (cf. Ex. 17,1-7); o bezerro de ouro (cf. Ex. 32). A memória da Palavra de Deus, a memoria Dei, é o que conduz Jesús à vitória. E a memoria Dei não é a simples recordação de frases bíblicas, mas o acontecimento espiritual que interioriza a presença de Deus no coração do Homem.
A tentações de Jesús não são apenas tentações de milagres, do sagrado ou do poder (ou respectivamente a tentação económica, religiosa e política) mas muito mais do que isso. Na primeira cena está presente também a tentação que nasce quando a nossa experiência da realidade é a experiência de um deserto, de dureza, de pedras; quando a realidade parece estéril, fecunda apenas de desilusões e incapaz de nutrir. Na segunda abre-se caminho à tentação que nasce quando se vai além das imagens idealizadas do sagrado e do religioso, quando as imagens consoladoras do divino se desfazem e o espaço de Deus se restringe cada vez mais. Na terceira cena abre-se a tentação consequente à ilusão do poder, da riqueza, da glória: quando estas realidades revelam a sua insanidade, no homem cultiva-se o cinismo, a desilusão e até o ressentimento. Jesús atravessa tudo isto e o que permanece é um corpo despojado, que na sua fé crua, recorda e repete a palavra de Deus. É assim no deserto, será assim na cruz (Mt 27,46).
LUCIANO MANICARDI
Comunidade de Bose
Eucaristia e Palavra
Textos para as celebrações eucarísticas - Ano A
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