II domingo da Quaresma
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Reflexões sobre as leituras
de LUCIANO MANICARDI
A transformação do rosto de Jesus fala-nos do rosto invisível de Deus. A oração age sobre aquele que reza e faz vir ao de cima a sua identidade
de LUCIANO MANICARDI
Gen 15,5-12.17-18; Sal 26; Fil 3,17-4,1; Lc 9,28b-36
A aliança é o tema unificador das leituras de hoje. Deus estabelece uma aliança com Abraão prometendo-lhe a ele, que era velho e não tinha filhos, uma descendência numerosa. Aliança, aqui significa uma promessa unilateral de Deus, a que Abrão responde com fé (I leitura). Jesus é o Filho que vive de forma total a aliança com Deus: a oração é o ambiente da sua transfiguração, do tornar-se transparente à presença do próprio Deus. As palavras que Deus pronuncia indicam aos cristãos o caminho para aceder à aliança e à comunhão com Ele: escutar o Filho (Evangelho). Paulo acentua o cumprimento escatológico da aliança de Deus em Cristo e fala da espera e da esperança da transfiguração dos seus corpos de miséria que os cristãos de Filipo anseiam (II leitura). Fé, esperança e oração são elementos decisivos da abertura do crente à ação transformadora de Deus.
Segundo Lucas a transfiguração de Jesus acontece no contexto da sua oração, no mistério do seu diálogo íntimo com com o Pai. “Enquanto orava, o aspeto do seu rosto modificou-se” (Lc 9,29): não um outro rosto, mas um rosto diferente. A oração é, para Jesus, um espaço de acolhimento, dentro de si, da alteridade de Deus: se o rosto é o lugar essencial de cristalização da identidade, então a oração incide sobre a identidade pessoal. A transformação do rosto de Jesus fala-nos do rosto invisível de Deus. A oração age sobre aquele que reza e faz vir ao de cima a sua identidade.
A oração é comunicação de Deus com Jesus com a mediação da “conversação” de Moisés e Elias. A sucessão “Moisés e Elias” espelha a expressão “Moisés e os Profetas” que em Lucas indica a Escritura, a Torah e os Profetas (cf. Lc 16,29.31; 24,27). Ou seja, a oração de Jesus aparece como escuta da Palavra de Deus através das Escrituras, mas uma escuta que se torna conversação com aquele que vive em Deus, uma verdadeira experiência de comunhão de santos. A Palavra de Deus, que é luz no caminho do homem, transmite luz e ilumina quem a escuta (cf. Lc 9,29). De resto, “escutar” significa fazer habitar o outro em nós, fazer-se morada para o outro.
Na oração Jesus confirma o seu próprio caminho, agora orientado para a paixão, morte e ressurreição (cf. Lc 9,22), e reconhece-o na continuidade da história da salvação conduzida por Deus com o seu povo: com efeito, Moisés e Elias falavam com Ele sobre o seu "êxodo" (Lc 9,31 literalmente) que iria acontecer em Jerusalém. Não é por acaso que, pouco depois, se especifica que Jesus se dirigiu resolutamente para Jerusalém (cf. Lc 9,51). A oração ilumina e orienta as decisões existenciais. A escuta da Palavra de Deus e a oração, enquanto confirmam Jesus como Filho em relação com o Pai, dão força para enfrentar a hostilidade dos homens. A sua solidão (“Jesus ficou só”: Lc 9,36) é sinal da segurança daquele que vive em comunhão com o Pai.
A maneira como os discípulos conseguem ver a transfiguração de Jesus é a vigilância, a luta contra o sono que faz o corpo pesar e tira a lucidez. E assistimos também à mudança dos discípulos que passam de um discurso insensato (Pedro que “não sabia o que dizia”: v. 33), à escuta (“Escutai-O”: v. 35) e por fim ao silêncio (“...guardaram silêncio e, naqueles dias, nada contaram a ninguém”: v. 36). É o silêncio que guarda o mistério do que viram.
Como David que não podia construir uma casa para o Senhor, mas o Senhor fez-lhe uma casa, isto é, deu-lhe uma descendência, também a Pedro é negado esse desejo de construir uma tenda para Jesus, Moisés e Elias e reconhece que habita a nuvem que o cobre. Entendida pelos Padres da igreja como uma referência ao Espírito Santo, mas também às Escrituras (assim Pedro da Celle no séc. XII), a nuvem que cobre Pedro indica o que é necessário para entrar nas Escrituras e deixar-se habitar pelo Espírito para escutar o Senhor e entrar em comunhão com Ele.
LUCIANO MANICARDI
Eucaristia e Parola
Textos para as Celebrações Eucarísticas - Ano C
© 2009 Vita e Pensiero