II Domingo da Quaresma
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Reflexões sobre as leituras
de LUCIANO MANICARDI
O crente impregna os seus sentidos com a fé, enxerta-os de Cristo, treina-os a rezar, deixa que se guiem pelo Espírito Santo
Domingo 4 Março 2012
Ano B
Gen 22,1-2.9a.10-13.15-18; Sal 115;
Rm 8,31b-34; Mc 9,2-10
O acontecimento da Transfiguração, no centro deste 2º Domingo da Quaresma, indica o objetivo do caminho quaresmal: a Páscoa. As leituras convergem na apresentação do dom do Filho a toda a humanidade, por parte de Deus com a figura de Abraão que não recusou o seu filho ao pedido que lhe foi feito por Deus. A aliança realiza-se através de um caminho cheio de contradições e de sofrimento. É assim para Abraão que se dispõe a sacrificar o filho da promessa (I leitura); é assim para Cristo, cuja transfiguração é o sim de Deus à sua aceitação de um caminho que comporta sofrimento e morte (evangelho); é assim para o cristão que, chamado a tornar-se reflexo do filho de Deus através de um caminho marcado por tribulações, põe a sua fé no amor manifestado por Deus em Cristo (II leitura).
A Transfiguração é um mistério de síntese de todo o Evangelho e da história da salvação. Ela está ligada ao primeiro anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus (cf. Mc 8,31-33) e apresenta Cristo transfigurado como “o Reino de Deus que vem com todo o seu poder” (Mc 9,1): cruz, glória pascal e vinda gloriosa são dossologicamente reassumidas em Cristo e oferecidas, pelo menos por um momento, à contemplação dos três discípulos. O passado, o presente e o futuro da humanidade, pensados por Deus no seu desenho da salvação, tomam corpo em Cristo e tornam-se luz de eternidade, profecia do Reino do Universo.
A Transfiguração acontece na carne humana de Jesus de Nazaré e, ao contrário da Páscoa, há testemunhas oculares (cf. 2Pe 1,16). Fundamenta-se portanto uma espiritualidade de Transformação e não de rutura. A Transfiguração não é evasão do mundo nem da história, não pede cinismo em relação ao corpóreo, material e humano, mas enxerto e resignificação destas realidades em Cristo. Na transfiguração revela-se que Jesus é o corpo de Deus; que em Jesus Dus habita o corpo humano (cf. Col 2,9): a vida espiritual torna-se assim discernimento da morada de Deus no crente.
No coração da visão da Transfiguração está a palavra divina que pede a escuta do Filho: "Este é o meu filho muto amado: Escutai-O." E a escuta da palavra de Deus contida nas Escrituras está no centro da vida espiritual cristã. Trata-se de escutar as Escrituras, seja o Antigo como o Novo Testamento e de ver nelas a harmonia em Cristo: Cristo, na verdade, é nomeado desde Moisés a Elias, pela Lei e pelos Profetas e testemunhado por Pedro, Tiago e João, isto é pela Nova Aliança. Nenhuma leitura marcionita das Escrituras que declare abolido o Antigo Testamento! Cristo resplandece da glória divina quando está no meio de Elias e de Moisés. Separado das Escrituras Cristo arrisca-se a ser um saco vazio para os nossos desejos e deixa de ser aquele que cumpre o desenho divino da salvação, o enviado de Deus, aquele que é revelado pelas Escrituras. De nada valia dizer "aquilo que temos de mais caro é Cristo" (Vladimir Soloviev), se Cristo não fosse Aquele que é revelado pelas Escrituras. Tornar-se-ia apenas um ídolo.
A Transfiguração acontece no coração de uma crise entre Jesus e a sua comunidade: Pedro tinha-se rebelado ante a perspetiva de sofrimento do Filho do Homem (cf. Mc 8,31-33) e no monte da transfiguração revela-se também incapaz de acolher o anúncio da glória: tomado pelo medo,“não sabia o que dizer” (Mc 9,6). Os discípulos não compreendiam a palavra de Jesus sobre a ressurreição (cf. Mc 9,9-10). Mas no fundo desta distância que se cria com os discípulos, Jesus, na sua solidão, recebe a confirmação do pai sobre o seu caminho. E os discípulos, apesar de não compreenderem, continuam a seguir Jesus. Certo, eles não chegarão a vigiar e a rezar quando estiverem ao lado de Jesus no Getsemani (cf. Mc 14,32-42), mas é verdade que o desejo de seguir Cristo acontece também na privação, na dificuldade, na incompreensão, na consciência imperfeita daquilo que se está a viver e daquilo que pode escapar do caminho que se está a fazer. A luz da Transfiguração também ilumina a obscuridade da fé.
LUCIANO MANICARDI
Comunidade de Bose
Eucaristia e Parola
Textos para as celebrações eucarísticas - Ano B
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