Vigília Pascal
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Reflexões sobre as leituras
de LUCIANO MANICARDI
A Ressurreição não elimina as trevas, antes experimenta-se, como luz nas trevas, como esperança na angústia, como alegria no temor.
sábado 7 Abril 2012
Ano B
Gen 1,1-2,2; Gen 22,1-18; Ex 14,15-15,1;
Is 54,5-14; Is 55,1-11; Bar 3,9-15.32-4,4; Ez 36,16-17a.18-28;
Rm 6,3-11; Sal 117; Mc 16,1-8
Na Vigília Pascal as sete leituras tiradas do Antigo Testamento sintetizam toda a história da salvação que se cumpre na ressurreição de Cristo. Em particular, o texto de Ex. 14,15-15,1 (cuja leitura é sempre obrigatória mesmo quando o número de leituras vetrotestamentárias é reduzido por razões pastorais), enquanto apresenta a passagem do mar vermelho, apresenta também a passagem do medo à fé (Ex. 14,10: “...e os filhos de Israel tiveram muito medo”; Ex. 14,13: “Moisés disse: ‘Não tenhais medo. Pemanecerei firmes e vede a salvação que o Senhor fará para vós hoje.”) simbolicamente representado pela passagem das trevas à luz, da tarde em que o povo está junto do mar (Ex. 14,1-14: é pela tarde que se acampa), ao longo de uma noite inteira (Ex. 14,15-25: de noite no meio do mar, cf. vv. 20-22) até de manhã (Ex. 14,26-31: ao raiar da manhã, do outro lado do mar, cf. v. 27). A 2ª Leitura (Rm 6,3-11) é uma catequese que fala do batismo como participação no evento Pascal de Cristo: a fé no Cristo morto e ressuscitado ativará no recém batizado a energia da ressurreição. Enfim, o Evangelho segundo Marcos apresenta o anúncio da ressurreição com o túmulo vazio sublinhando o seu carácter escandaloso e incrível.
O evangelho apresenta antes de mais a fé preserverante de algumas mulheres que não abandonam Jesus e que o seguem até à cruz e depois até à sua sepultura. É a fé de quem ama e de quem continua a seguir o Senhor mesmo quando tudo parece perdido e acabado. Este amor obstinado será compensado pela aparição daquele que proclama a ressurreição de Jesus. A fé das mulheres é adesão humana, humaníssima a Jesus; não é fé na ressurreição. Elas querem o cadéver de Jesus para o ungirem com perfumes, procuram o corpo morto de Jesus. Mas esta relação tão humana com o seu mestre, esta busca do corpo do amado rabbì, é o espaço do anúncio pascal: “Buscais a Jesus de Nazaré, o crucificado? Ressuscitou; não está aqui.” (Mc. 16,6).
Ao mesmo tempo, diante da pedra, já removida da entrada do sepulcro, diante do túmulo vazio, diante do jovem vestido com uma veste branca (sinal de pertença ao mundo divino) que anuncia que Cristo ressuscitou, elas reagem com medo e desânimo e fogem sem dizer nada a ninguém. Medo em vez de alegria, silêncio em vez de anúncio, fuga em vez de missão. Marco sugere que a ressurreição é uma realidade escandalosa mais difícil de aceitar do que a própria cruz. A cruz é loucura (cf. 1Cor 1,18.23), mas no fundo é obra humana; e o homem é muito hábil a construir cruzes e a crucificar, a criar infernos e a fazer padecer tantas criaturas. Mas a ressurreição é obra divina, é obra exclusivamente de Deus. E é escandalosa: pode-se ressuscitar um cadáver? A narração de Marcos da ressurreição de Cristo é escandalosa e manifesta a incredibilidade do anúncio cristão. Mas é ao mesmo tempo muito realista: A Ressurreição não elimina as trevas, antes experimenta-se, como luz nas trevas, como esperança na angústia, como alegria no temor. O anúncio de que "Cristo ressuscitou" não é separável do sofrimento e da morte que permanecem e que marcam o homem. Esta evidência faz sobressair a ressurreição como objeto de fé, como realidade em que se acredita. E faz emergir como grande tentação o cinismo, o inconfessável não crer na ressurreição, o reduzir Deus à medida humana.
A fuga e o silêncio das mulheres abrem o texto ao homem de todos os tempos e pedem-lhe para continuar o anúncio, para prosseguir aquilo que no texto parece concluído, fechado. Revelam o carater escandaloso da ressurreição. Para as mulheres talvez tivesse sido mais reconfortante encontrar o corpo morto de Jesus e poder realizar todos os rituais fúnebres para que se haviam preparado! Pelo contrário, a ressurreição desorienta-as, como nos desorienta também a nós e conduz-nos ao salto da fé, à purificação e ao renovamento da relação com o Senhor.
LUCIANO MANICARDI
Comunidade de Bose
Eucaristia e Parola
Textos para as Celebrações Eucarísticas - Ano B
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